sábado, 20 de agosto de 2016

Parte 1 - Férias 15/16 - Voltinha pelo quintal

Ida à Ouro Preto
Antes de seguir a Ouro Preto começar a descida da ER, dei uma passadinha em Poços de Caldas rever uns amigos, comer uma carne e tomar uma cerveja. A garganta já estava em frangalhos, e ali foi a gota d’agua, pelo menos não deu pra encher o saco do povo com o tanto que falo.
Eu adoro subir a serra sentido MG. São poucos quilômetros, mas me dá uma sensação de paz. Chegando a Pouso Alegre vou tomar um café e acabo encontrando um amigo. O bom é que ele sabia onde o churrasco seria (eu não!).
O dia começa com as despedidas da turma e destino a Ouro Preto, a 550km, tranquilo. Apesar da garganta destruída, o dia foi daqueles perfeitos para andar de moto: temperatura perfeita, nem frio nem calor, suficiente pra andar de jaqueta confortavelmente, céu azul com muitas árvores e sombras pelo caminho. Em vários momentos a consciência se esvazia e um sentimento de união com tudo que está em volta aparece... acho que é isso que chamam de perfeição – ou seria felicidade?
Decidi evitar ao máximo as grandes rodovias (Fernão Dias) e seguir por estradas secundárias, apesar de que um trecho não consegui cortar (e foi o mais chato da viagem). A moto não rendia com muita bagagem e o para-brisa, e eu, sofria com os caminhões.
Aí fui chegando a uma cidadezinha onde provavelmente imperava a lei de Murphy: São Brás do Suaçuí. Primeiro, haviam modificado a estrada asfaltada pela cidade, que não tinha indicação nenhuma, nada de placas, e nem no gps. Perdidão. Segundo que a hora que me encontrei, começou um dos maiores dilúvios que já havia pego em cima de uma moto, até as lombadas da cidade desapareceram, e fui obrigado a colocar a coisa que mais odeio em todo universo motoqueirístico: Minha odiada alba.
E claro que, assim que rodei cinquenta quilômetros e saí da cidade, o céu azul apareceu de novo.
Ao passar por Ouro Branco, grata surpresa, a estrada que vai até Ouro preto é uma das mais belas que já pilotei. Curti cada metro daquela estrada saboreando suas curvas e seus mirantes. O pneu dianteiro gasto já não ia bem na lama formada pela chuva e a moto sambava pela estradinha do mirante. Vi alguns totens da ER e tive certeza de que voltaria por ali no outro dia (ledo engano).
Cheguei em ouro preto e a quantidade de morros na cidade a princípio assusta, mesmo a quem mora no pé da serra. Uma rápida volta na cidade e fui procurar o camping. Fiquei no CCB, na saída da cidade, um dos mais caros que já paguei (R$35) com uma estrutura bem meia boca, e ainda ganharam minha toalha esportiva (esqueci lá). Só tinha eu no camping fora o dorminhoco na recepção. À noite um reconhecimento em Ouro Preto, um lanche e volta pra barraca que amanha tem mais!
Fui dormir com o Itacolomi visto pela porta da barraca, e acordei com ele entre nuvens de um dia frio e cinza.

A descida da estrada Real
Revigorado de dormir na barraca, apesar de todos os possíveis desconfortos, acordei com o sol ali pelas seis da manhã.
Depois da experiência no barro ontem, me decidi a colocar pneus de trilha na moto. Arrumei tudo vagarosamente já que as lojas abrem depois das nove, aproveitando pra passar a moto ao modo trilha (tirada da bolha e da jaqueta – daqui pra frente é camisa e cotoveleira). Claro que a bagagem continuou mal arrumada, levei muita coisa que não usei, muito peso desnecessário.
Tomei um café a caminho de Mariana onde queria visitar o local do estouro da barragem. Não consegui ver a barragem, mas por sorte encontrei uma loja de motos muito boa e com excelente atendimento que colocou pra mim um par de pneus cravudos na Tenerezinha – Agora sim!
Umas dez horas estava tudo pronto pra cair na estrada. Queria chegar ainda hoje a São João del Rey. No asfalto, a moto ficou ó, uma bosta! Com esses pneus de cravo, a moto flutua em piso firme. Demora a se acostumar. Não conseguia passar de 50km/h no começo.
- “Vai ser um longo dia”, pensei comigo mesmo. E pelo menos nisso, eu acertei.
Voltando a Ouro Preto, fui no Centro de Informações Turísticas (CIT) pra tentar pegar um passaporte da ER. Eu fiz a reserva em casa pela net... mas o celular estava sem bateria e eu não lembrava senha de e-mail pra abrir lá (fora que me mandaram in numa lan house pra isso). Infelizmente, desisti do passaporte. No fundo foi até bom, menos uma preocupação.
Adesivos da ER, também, sem chance. Pelo menos o tempo estava melhor agora... Um pouco aborrecido, que seja, taco-lhe pau, deixa eu voltar pro mato que ficar na cidade tá me dando urticária. Sigo para o primeiro marco do caminho velho, um pouco depois do camping. Entro na estrada de terra, me sinto aliviado, mas ao mesmo tempo batalhando com a moto – não esperava que a moto se comportasse assim, meio que um caos controlado. Chego a uma curva com o marco dizendo para seguir pela porteira.
Abro a porteira e sigo por uns 300m, até a moto travar os alforges nas laterais da trilha.
Não tem como virar a moto. Vou dando ré... por uns bons metros até conseguir manobrar por cima de um barranco e sair da trilha. Por sorte, encontro um senhor na estrada, exímio conhecedor da região, que me diz o caminho para contornar a trilha. Gostaria de ter conversado mais com ele, mas estava tão puto, cansado e suado que só queria cair na estrada de novo.
Fui seguindo os marcos, passando pelo vilarejo de São Bartolomeu e uma grande e larga estrada de mineração e lá na frente saí no asfalto. Não que tenha sido ruim, mas me chateou perceber que já tinha passado Ouro Branco e que aquele trecho do mirante, com as belíssimas vistas, não fazia parte do caminho velho.
Esse primeiro trecho não tem muita coisa bonita nem desafiante fora as trilhas e algumas vilas. Muitos trechos passam por asfalto e/ou calçamento, e eu já jugava ter feto besteira colocando os pneus.
Logo cheguei perto da fatídica cidade do mega temporal do dia anterior, e adivinha, temporal a vista de novo. Dessa vez na estrada de terra. Pior que esse foi sacana: tudo virou lama e num dos trechos onde cruzava o asfalto resolvi não me arriscar... o dia já estava longo demais, eu estava cansado e estressado. Parei em um ponto de ônibus e fiquei esperando a chuva passar.
Faltavam uns cinquenta quilômetros para São João Del Rey, destino do dia. Quando a chuva deu uma trégua, acreditei que tinha uma chance e pulei na moto, cortei esse trecho de terra e três quilômetros depois comecei a tomar pedradas de gelo no capacete. Achei um ponto de ônibus coberto mas sem laterais. Parei ali e fiquei tomando chuva (que era lateral) por mais um tempo. Quando desisti, depois de uns quarenta minutos, botei a capa toda mesmo já estando ensopado, sai de saco cheio e pra variar, dez minutos depois a chuva parou e o sol apareceu. Parei na primeira pousada que achei, a mais cara da viagem, mas também a melhor. Eu merecia.
Pousada Casarão, R$100 com estacionamento mas no outro quarteirão.
Pra terminar o dia, meu celular morreu, não carregava mais. O backup, radio da Nextel, também morreu. O celular velho que uso como player, morreu. Usei o telefone do hotel pra avisar a patroa que tudo estava (mais ou menos) bem.
Durante a noite fiquei com a cabeça a milhão apesar de tudo, e resolvi que não iria deixar esse dia estragar minha viagem. A ER não me venceria de novo.
Acordei com sol batendo na janela. O céu azul lindo. E um puta café da manhã da pousada. O celular continuava morto.
Sem pressa, aproveitei cada item do café da manhã da pousada. Fui pegar a moto no estacionamento, deixei na rua à frente da pousada e arrumei toda a bagagem com calma. Acordei zen hoje.
Na saída parei na igreja símbolo de São João del Rey, registrei em foto e segui para Tiradentes por um trecho de calçamento muito bonito, com cachoeiras nas laterais e o marco de inauguração do caminho velho. Hoje eu já estava me entendendo melhor com os pneus e a velocidade subiu consideravelmente.
Tiradentes é turística e limpa, muito bonita. Voltarei lá com mais tempo. Passei pela cidade e parei num bar para tomar um refrigerante e comer algo. Povo muito simpático, muita gente rodeando a moto e perguntando se era de rali. Um me contou que foi dali até São Paulo de moto, com uma Dafrinha. Não deixa de ser uma aventura.
Segui os marcos até quando reconheci a estrada. Era hora de ir pro asfalto e retornar. Na hora do almoço estava de volta a São João del Rey e atravessei pro próximo trecho de terra. Hoje não havia colocado objetivo, mas gostaria de chegar a Carrancas pois sabia que lá tinha vários campings.
Aos poucos foi mudando o ambiente, as árvores foram ficando mais escassas e me sentia na serra da canastra. A viagem estava rendendo, eu me entendia com a moto e voava pelas estradas de minas. Também não faltavam totens de navegação. Esse foi, sem dúvidas, o trecho mais bonito até agora. Lá na frente, a balsa para a Capela do Saco aguardava do outro lado da represa.
Agora eu vejo que no fim, as chuvas me ajudaram. Elas encheram a represa e a balsa, que estava travada no fundo da mesma, agora conseguiu desatolar, e podia carregar apenas motos. A balsa, por sinal, era um caso a parte, engenharia mineira das mais finas: um trator (!) com pás no lugar das rodas é que dava vida a balsa.
O trecho após a balsa até carrancas foi simplesmente sensacional. Lindo e com estradas de terra deliciosas, me sentia num rali, com velocidades que prefiro não escrever. Mesmo parando pra fotos, cheguei em Carrancas muito mais cedo do que achei que chegaria.
Dei uma olhada pelos campings da cidade e escolhi um, armei a barraca e deixei algumas coisas lá e fui conhecer alguma cachoeira. Encontrei um “cuecão de couro” numa Sportster que devia estar num dia ruim (ou com a cueca apertada).
Fui no complexo do poço do coração, não tinha ninguém pra cobrar lá, entrei e tomei um banho de cueca mesmo que era o que tinha. A noite relaxando no camping, meu celular finalmente ressuscitou (menos de três dias não configura milagre né?).
O camping que fiquei é bem debaixo da placa de “Boa viagem” na estrada, de frente para um posto de gasolina. Excelente estrutura, com WIFI, churrasqueiras, cozinha e etc por R$25. 
Carrancas é uma São Thomé menos o agito ( o que pra mim é perfeito). Adorei a cidade e voltarei. Recomendo.
Tive uma noite de sono perfeita dentro da barraca. Acordei, já com o sol, com barulho do lado de fora da barraca.
Assustado, peguei a faca e abri devagar a porta da barraca. Antes de terminar de abrir já pula pra dentro da barraca o cachorro mais feliz que eu já vi. Fiquei com dó pela decepção dele enquanto eu desmontava o acampamento.
Fui até uma (a?) padaria da cidade tomar um café e recebi até oferta pra comprar casa e terreno (no sentido literal). Povo simpático e conversador.
A ideia era chegar em São Lourenço hoje, concluindo o que faltava do caminho velho. Sai cedo e toquei seguindo os marcos. Passei pela entrada do complexo da Zilda em carrancas e pela equipe da prefeitura arrumando a estrada de terra, que pras motos fica bem pior com terra e pedras soltas. O trecho passa por dentro de algumas fazendas e aqui onde aparecem os malditos mata burros longitudinais.
Próximo de Baependi, começava a aparecer no gps as estradas como sendo “trilhas 4x4”. Agora a diversão começava!
A primeira foi assustadora, nunca havia visto nada assim. Andando pela estrada quando ela simplesmente desce, vira um cânyon com paredes de barro de vários metros de altura, arvores caídas no meio do caminho e caindo das laterais, e escuro como a noite – em pleno sol do meio do dia. Desci com cuidado, mais por não estar enxergando nada do que pela estrada em si, e ela termina exatamente na entrada de Baependi.
Atravessei a cidade rumo a Caxambú onde o caminho na verdade é como um anel viário de terra que contorna a mesma. Mas chegando em São Lourenço, nos últimos quilômetros do dia, foi o trecho mais difícil. Encontrei com um casal subindo a ER de bicicleta e duas motos, mas não pararam pra conversar. Logo após passar as motos, uma subida enorme cheia de barro, que a moto quase não teve força pra subir e se parasse não teria, e uma curva à frente a primeira negociação avançada de compra de terreno mas sem efetivação. Foi onde percebi que os pneus realmente estavam fazendo a diferença. Se estivesse com pneus mistos, seria chão.
Cheguei em São Lourenço pouco depois do meio do dia. Parei em uma padaria pra comer algo e percebi que os marcos só me levariam a uma volta pelo centro da cidade antes de cair em um trecho de terra. Resolvi contornar a cidade, tirei uma foto no portal pra provar a conclusão do desafio e decidi não ficar. Como conheço bem a estrada, resolvi seguir a ER até começar a escurecer e depois cair no asfalto até em casa.
No final das contas, consegui fazer o caminho velho até antes da descida da garganta do registro em Guaratinguetá, na serra peguei o asfalto e pouco depois estava em casa, Feliz e cansado, e me sentindo pronto para o Jalapão.
Desafio concluído, agora faltam só mais três caminho para fazer todos! Minas que me aguarde!

Pronta pra aventura 
Cheia de peso morto - Pra próxima, menos coisas
Região de Poços de caldas
Parabrisa para conforto em longas horas no asfalto
Pedra grande

Grupos que tenho um carinho especial

Já em Ouro Branco, a caminho do mirante, o pneu dianteiro careca não ajudava

Steve (o macaquinho) na estrada real
Supresas na beira da estrada
Itacolomy encoberto 
Ouro preto, cidade linda

Uma de muitas igrejas. Não são meu ponto turístico preferido, mas... 
Noite no camping
Manhã no camping

Pronta pra começar a brincadeira mais séria
Aqui começa a ER, marco zero.
Marco zero
Dia clareando, gopro na "testa" da moto
Igreja em distrito
Vai sujando, e ficando mais bonita
Pneu biscoito. Ou é bolacha?

Steve, meu companheiro de estrada.





Nos trilhos
Manhã em São João Del Rey
A caminho de tiradentes




Um dos trechos mais bonitos, a caminho de carrancas.

Rendeu boas fotos!
Esperando a balsa
Steve esperando a balsa
A máquina, até meio limpa depois de tanta chuva
Quem vos escreve





Comendo um lanche pra comemorar o fim da jornada!



Uma das fotos onde a moto está mais bonita, e também a última dessa fase. 
É isso pessoal, na próxima parte será a subida até o Jalapão, realização de outro sonho.

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